segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Mais uma vez, os professores são achincalhados pelo Governo do Estado

Pessoal, mais uma vez nosso governador José Serra, como não seria de se surpreender, dá um golpe na Educação Pública de São Paulo, e promove, com inigualável talento, a desunião da classe dos professores da rede pública. No dia 27 de outubro de 2009, o governador conseguiu aprovar na Assembleia Legislativa um projeto de Lei Complementar de sua própria autoria que institui o sistema de promoção para os integrantes do Quadro do Magistério da Secretaria da Educação e dá outras providências. Esse sistema prevê que, para que haja a promoção dos trabalhadores da área de ensino (diretores, professores, supervisores, suporte pedagógico), será necessária a realização de uma prova. Grosso modo, se o educador tem um bom desempenho na prova, ele deveria ser promovido, se não, não. Até aí, tudo bem. É até interessante a realização de uma avaliação para promover professores melhor preparados, atualizados, que se envolvem com o trabalho. Isso, inclusive, poderia redirecionar os interesses da classe e gerar um ambiente coletivo de professores que se interessem em se instruir melhor para serem promovidos no sistema.

O problema é que a lei não é bem assim. No caso, não são todos os educadores aprovados nessa avaliação que são promovidos, mas apenas 20% do Quadro. Ou seja, se 70% dos professores são aprovados, apenas 20% são promovidos, conforme par. 4° do Artigo 4°: "
Observadas as condições estabelecidas nesta lei complementar, poderão ser beneficiados com a promoção até 20% (vinte por cento) do contingente total de integrantes de cada uma das faixas das classes de docentes, suporte pedagógico e suporte pedagógico em extinção, existente na data da abertura de cada processo de promoção". Eu fico pensando em como serão os critérios para selecionar esses 20% caso tenhamos mais professores aprovados. Uma lei como essa, com uma cláusula como essa, jamais pode ser positiva, e pode gerar consequências terríveis para o ensino público do estado.

Primeiramente, eu gostaria de chamar a atenção aos motivos pelos quais os professores devem passar por uma avaliação para que haja promoção. Claro, há professores péssimos e mal preparados no Quadro do funcionalismo público, que inconcebivelmente já passaram por um concurso público, e isso deveria ser uma forma de valorizar os profissionais mais competentes. Acho ótimo, inclusive sugiro um outro projeto de lei: também há péssimos deputado e acessores exercendo cargos públicos. Por que não realizarmos uma prova para que eles tenham uma promoção? Não seria também interessante? Mas também deve-se cuidar de promover até 20% dos aprovados, porque senão os cofres públicos não suportarão tamanho gasto.

Em segundo lugar, imagine o ambiente de trabalho em que temos vários professores aprovados nessa prova, mas apenas alguns promovidos. Um ambiente bem saudável, não é, com professores unidos pelo sentido de justiça que essa lei implementou. É claro que vamos ter um ambiente péssimo, em que há discriminação de profissionais igualmente competentes.

Em terceiro lugar, estipular até 20% de promoção é justamente subestimar a classe dos professores, entendendo que 80% não são merecedores de promoção, estando todos nas mesmas condições para a realização da prova. Será que é isso mesmo? Será que tratar os professores assim corresponde mesmo aos interesses coletivos em prol da Educação?

Por último, por que não houve a divulgação maciça dessa lei? Será que uma lei como essa pega bem eleitoralmente? Será que a população sabe disso? Leis antifumos pegam, mas lei antiprofessores são menos simpáticas...

Concordo sim com essa avaliação. É uma forma de tirar o professor do comodismo, estimulá-lo, e por que não valorizá-lo. Mas acho que essa avaliação deveria ser feita em toda instância pública, inclusive para os próprios funcionários do executivo e do legislativo. Não entendo por que uma classe tem uma política de promoção salarial, e outras têm políticas diferentes. Acho também que todo professor que apresentar o desempenho satisfatório deveria sim ser promovido! Não entendo por que só 20%. Qual é o interesse coletivo aos se colocar essa medida? Será que o interesse é promover e melhorar o nível da educação, ou dar um jeito para evitar "gastos" com professores do setor público?

Sinceramente, eu como professor e como educador nao posso concordar com isso, e devo divulgar ao público aos causas do desfacelamento da Educação Pública no Estado de São Paulo. O problema não é essencialmente estrutural, pois a estrutura física e pedagógica que muitas das escolas públicas estaduais apresentam hoje não impede que tenhamos um ensino de excelente qualidade. O problema é justamente projetos de lei como esse, que colocam o educador, grande responsável pelo funcionamento disso tudo, em uma situação de subestimação, promovendo baixa auto-estima, desunião e, consequentemente, péssima qualidade de ensino. Será que queremos isso para nosso país? O autor dessa lei será candidato à presidência no ano que vem. Isso é muito sério, e devemos saber.

Abaixo deixo à disposição de vocês, na íntegra, o projeto de lei complementar
Nº 1097, DE 27 de outubro de 2009, além dos deputados que aprovaram essa lei, para que possamos sabem quem de fato está mesmo interessado na melhora do Ensino Público Estadual. Pensem nisso e comentem!

LEI COMPLEMENTAR Nº 1097, DE 27 DE OUTUBRO DE 2009

REPORTAGEM NA TV APEOESP - Vejam a situação dos professores no setor público de São Paulo

GRÁFICOS DA CAMPANHA SALARIAL DOS PROFESSORES

VOTAÇÃO DO PLC 29/2009 NA ASSEMBLEIA

Estes deputados votaram SIM ao PLC 29 e contra os professores

DEM

Edmir Chedid
Estevam Galvão
João Barbosa de Carvalho
Milton Leite Filho

PDT

José Bittencourt
Rogério Nogueira

PMDB

Baleia Rossi
Jorge Caruso
Uebe Rezeck
Vanessa Damo

PP

Mozart Russomano

PPS

Alex Manente
Davi Zaia
Roberto Morais
Vitor Sapienza

PRB

Gilmaci Santos
Otoniel Lima

PSB

Ed Thomas
Jonas Donizette
Luciano Batista
Marco Porta
Vinícius Camarinha

PSC

Said Mourad

PSDB

Analice Fernandes
Bruno Covas
Cassio Navarro
Celino Cardoso
Celso Giglio
Fernando Capez
Geraldo Vinholi
Hélio Nishimoto
José Augusto
João Caramez
Maria Lucia Amary
Mauro Bragato
Milton Flávio
Paulo Barbosa
Pedro Tobias
Roberto Massafera
Rodolfo Costa Silva
Samuel Moreira
Vaz de Lima

PTB

Campos Machado
Roque Barbieri
Waldir Agnello

PV

Camilo Gava
Edson Giriboni
Reinaldo Alguz

Estes deputados votaram com os professores

PCdoB

Pedro Antonio Bigardi

PDT

Olímpio Gomes

PSOL

Carlos Giannazi
Raul Marcelo
PT

Adriano Diogo
Ana Perugini
Antônio Mentor
Beth Sahão
Carlinhos Almeida
Donisete Braga
Enio Tatto
Fausto Figueira
José Cândido
José Zico Prado
Marcos Martins
Maria Lúcia Prandi
Roberto Felício
Rui Falcão
Simão Pedro
Vanderlei Siraque
Vicente Cândido










terça-feira, 1 de dezembro de 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Palestra com Ivo Herzog e Sérgio Gomes, dia 24 de novembro de 2009 - Colégio Leonardo da Vinci



No dia 24 de novembro de 2009, tivemos a grande satisfação de receber em nosso colégio Ivo Herzog e Sérgio Gomes, ambos membros do Conselho Deliberativo do Instituto Herzog. Esse encontro foi resultado de um trabalho que realizamos na escola com os alunos do 9° ano do ensino fundamental, tendo como base a leitura do livro “Dossiê Herzog: prisão, tortura e morte no Brasil”, do jornalista Fernando Pacheco Jordão. Tivemos sala cheia, e uma conversa instigante do começo ao fim. Um trabalho em conjunto, que todos quiseram realizar, e todos fizeram acontecer de forma espontânea. Não preciso dizer mais nada além da imensa emoção de ver aqueles olhinhos brilhando após o trabalho realizado. Deixarei que os alunos digam.

Marcus Vinícius da Silva

Professor de Língua Portuguesa















“Não perdi meu tempo ontem, quando assisti à palestra. Sérgio me mostrou outro jeito de ver a política. Hoje nós jovens somos inativos, não sabemos o que está acontecendo e nem queremos saber sobre nossa política.

Sérgio queria mostrar que a morte de Vlado não foi em vão, e que a ditadura, as mortes, as torturas não devem ser esquecidas pelos brasileiros, para nunca mais acontecer.”

Isabela Comparoni



“Eu acho que foi bem importante essa palestra para nós alunos aprendermos melhor sobre a ditadura militar, e para, como disse Sérgio, não cometermos o mesmo erro que os militares cometeram com toda a população brasileira.”

Lucas Duran






“Foi uma experiência muito marcante, principalmente pelo fato de sabermos que a História passa além dos cadernos, vimos a formação da História em carne e osso.”

Nicolas Rorato T. de Lacerda Pereira






“Com a palestra, aprendemos que o assunto da ditadura militar abrange outros temas de diferentes épocas que até hoje acontecem em nossa sociedade.”

João Paulo Soubihe






“A palestra foi muito importante para abrir os olhos de todos que hoje acreditam que a ditadura acabou, porém ainda existem sujeitos que dão continuidade a esse processo, cometendo atos bárbaros.”

Matheus Pesce Vendramin






“Essa palestra sobre o caso de Herzog me fez entender que aquela situação da ditadura foi muito cruel, mas essa situação ainda existe, com atitudes individualistas, e nós só iremos mudar essa situação se cada pessoa mudar, se a consciência humana, em geral, mudar.”

Fernando Martins da Silva Filho





“Ontem, durante a palestra de Ivo Herzog e Sérgio Gomes, nos foram apresentados valores e muitas propostas de como melhorar as nossas vidas ajudando ao próximo. Ainda tivemos a oportunidade de aumentar o nosso conhecimento sobre o que foi a prisão, tortura e morte no Brasil durante a ditadura.”

Isabela Sartori




“Durante a palestra, além de aprender sobre a ditadura, aprendemos a ser pessoas melhores, menos individualistas, pensando mais em nossos direitos ou deveres como cidadãos.”

Fernanda Sá Bohn






“Palestra de Ivo Herzog e Sérgio Gomes... Mais que uma conversa, uma abertura dos olhos. Para muitos, algo insignificante, para poucos, infelizmente, uma oportunidade que só tivemos por causa do trabalho conjunto de pessoas que acreditam em mudanças. Pessoas que creem na contínua melhora. Enfim, algo importante que levaremos pela vida toda. Perda de tempo? Nunca!”

Vitor Dutra




“A partir do momento em que se iniciou o projeto da palestra, eu me emocionei muito, pois sabia que essa era uma oportunidade de aprender, mas não esperava um evento tão maravilhoso.

Foi ontem que eu realmente percebi a importância do Instituto, pois ele não vive do passado, ele o usa para fazer um futuro melhor.”

Fernanda Favaro




“Definitivamente não foi uma perda de tempo. Temos que aprender com o passado e superá-lo para que não ocorra mais, devemos deixar os preconceitos de lado e enfrentar experiências novas, como esta.”

Alana Ometto






“A palestra não foi um desperdício de tempo. Para falar a verdade, foi extremamente interessante. Ela mudou o jeito que eu via a sociedade e nossa posição nela. Agradeço muito ao Sérgio Gomes e a Ivo Herzog, que foram os palestrantes. Foi a primeira palestra em que me interessei e prestei muita atenção”

Maria Taemi Franco Hayashi




“Essa palestra foi para mim uma experiência muito importante porque, mesmo estudando sobre a ditadura, ter a chance de ouvir pessoalmente o depoimento de pessoas que viveram essa época terrível é totalmente diferente. O sentimento, a lição que nós tivemos foi tudo muito importante, e foi uma honra para mim ser mais um para que isso não passe em branco em nossas vidas.”

Antonio Carlos S. de M. e Sedeh Filho




“O tempo que passei ontem com o Ivo e com o Sérgio, para mim, serviu para abrir minha cabeça, a conversa que tivemos foi muito importante para mim, e com certeza para todos os que lá estavam e ouviram aquilo que eles tinham para dizer.”

Luca Dodi Cabianca





“Foi uma experiência única que abriu várias portas do que tinha acontecido na época da perseguição. Achei incrível quando o ‘Sérgião’ falou que, quando foi pego pelos militares, ele teve a sensação mais pacífica, mais calma, de sua vida. É de extrema inteligência a interpretação que ele deu àquele momento.”

Marcos Vinicius Comparoni





“Pensava que seria apenas para adquirir mais informações, mas foi bem mais que isso, foi uma grande discussão sobre ética e ideias. Após a palestra, meu ponto de vista sobre vários assuntos mudou.”

Pedro Henrique Eduardo Pinto






“A palestra de ontem foi muito importante para maior conscientização dos alunos do colégio Leonardo da Vinci sobre o ‘caso Herzog’. O mais interessante é que o assunto abordado vai além da ditadura, são coisas que devemos levar para a vida, e que mudou o pensamento de muitas pessoas.”

Túlio Bassoli





“A reunião do dia 24 de novembro foi muito instrutiva, pois descreveu aos jovens de hoje em dia como era o Brasil na ditadura, com prisões de jornalistas, políticos, e a tortura deles. Isso com certeza mudará o pensamento e as atitudes de todos ali presentes.”

Tiago de Oliveira G. Gonçalves





“Graças à palestra de ontem, esclareci várias dúvidas que tinha, e tive o prazer de conhecer o próprio filho de Vlado. Entendi como foi para o Sérgio a experiência que ele teve de ir para a prisão. Espero que o Instituto Herzog continue fazendo estas palestras, e tenho certeza de que ele terá muito sucesso.”

Felipe Curtolo Abrahão

























sábado, 17 de outubro de 2009

GRÊMIO ESTUDANTIL

Pessoal, semana passada tivemos uma conversa bacana sobre a representatividade dos alunos na escola, e meu objetivo é justamente estimulá-los a ter uma maior participação em nossas atividades. Na minha perspectiva, a escola ganha muito com alunos participando, se mobilizando, realizando coisas. Como não sou aluno, não posso organizar nada, mas posso ajudá-los, colocando alguns questionamentos sobre o que é um grêmio estudantil, e que vantagens os alunos podem ter com uma instituição como essa em mãos.

O que é o Grêmio Estudantil?

Um Grêmio Estudantil é a organização que representa os interesses dos alunos na escola. A criação de um grêmio é garantida pela lei N° 7.398, DE 4 DE NOVEMBRO DE 1985, e a escola deve oferecer condições físicas para sua organização, assim como garantir a participação dos alunos no conselho de classe e de série. Através do grêmio, os alunos têm a oportunidade de participar das atividades escolares com mais autonomia, se organizando para garantir que haja diálogo entre alunos, professores e direção, evitando, assim, a concentração das decisões por parte somente daqueles que são hierarquicamente superiores.

Como estamos discutindo em aula, vocês percebem que há uma crônica falta de interesse dos alunos com relação às atividades coletivas. Isso é consequência do fato de que a sociedade contemporânea sofreu um encolhimento da organização pública, passando a ser vivida através da administração doméstica. A ordem familiar não comporta as diferentes coisas existentes no mundo, justamente o que causa medo no homem, aprisionando-o na interioridade. Dessa forma, as pessoas se tornam cada mais fechadas em pequenos grupos, e suas atitudes são cada vez mais individualistas. As consequências mais graves disso são justamente a falta de participação das pessoas em causas que vão além dos assuntos domésticos, como no bairro, na comunidade, na escola, e mesmo nas questões políticas que envolvem todo o país. As pessoas deixam de exercer sua cidadania. Isso explica o desinteresse de muitos alunos com relação a assuntos maiores, mais reflexivos, e simplesmente gera indisciplina e até mesmo violência.

A atribuição de uma responsabilidade dos alunos na escola, através do grêmio, permite que vocês se sintam parte do próprio processo de aprendizagem. Muitos de vocês não conhecem seus direitos como alunos. Muitas vezes, sou abordado por alunos nos corredores, que manifestam suas insatisfações sobre assuntos diversos, mas pouca coisa avança. Isso se explica a partir da falta de organização e representatividade. O grêmio estudantil possibilita justamente que haja a formalização das reivindicações dos alunos, de forma a permitir um diálogo mais sério e aberto com a direção. Sem isso, vocês continuarão sendo simplesmente sujeitos passivos na escola, não sendo parte de nenhuma decisão.

Através de um grêmio, os alunos podem organizar festas, feiras culturais, saraus, arrecadar fundos para para sua manutenção e para ajudar instituições de caridade, produzir jornais, formar grupos de música, teatro, cinema, esportes. Além disso, vocês passam a ter voz para reivindicar por melhorias de ordem estrutural dentro da escola. Isso é um direito de vocês, e vocês devem participar.

Bom, vamos continuar conversando sobre isso, e me coloco à disposição para qualquer dúvida.

Abaixo, deixo disponível a Lei do Grêmio Livre, para que vocês possam conhecer seus direitos. Também deixo alguns sites com algumas sugestões para a formação de um grêmio.


LEI DO GRÊMIO LIVRE

LEI N° 7.398, DE 4 DE NOVEMBRO DE 1985.

Dispõe sobre a organização de entidades representativas dos estudantes de 1° e 2° graus e dá outras providências

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o congresso Nacional decreta e em sanciono a seguinte lei:

Art. 1° - Aos estudantes de estabelecimentos de ensino de 1° e 2° graus fica assegurada a organização de Estudantes como entidades autônomas representativas dos interesses dos estudantes secundaristas com finalidades educacionais, culturais, cívicas esportivas e sociais.

§ 1° - (VETADO).

§ 2° - A organização, o funcionamento e as atividades dos Grêmios serão estabelecidos nos seus estatutos, aprovados em Assembléia Geral do Corpo discente de cada estabelecimento de ensino convocada para este fim.

§ 3° - A aprovação dos estatutos, e a escolha dos dirigentes e dos representantes do Grêmio Estudantil serão realizados pelo voto direto e secreto de cada estudante observando-se no que couber, as normas da legislação eleitoral.

Art. 2° - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3° - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 04 de novembro de 1985; 164° da Independência e 97° da República.

JOSÉ SARNEY

Marco Maciel

Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 53º inciso IV, garante o direito dos estudantes de se organizar e participar de entidades estudantis.

Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996

Esta lei estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. A partir dela, estão garantidas a criação de pelo menos duas instituições, a Associação de Pais e Mestres e o Grêmio Estudantil, cabendo à Direção da Escola criar condições para que os alunos se organizem no Grêmio Estudantil. A lei determina ainda a participação de alunos no Conselho de Classe e Série.


Abaixo, deixo alguns sites que servem como exemplo de organizações estudantis que dão certo:


http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/portal/gremio/index.php

http://www.brunoxp.com.br/grec/?page_id=2

http://www.colegio-santaclara.com.br/gremio_estudantil/gremio_estudantil.html

http://gremio-cefetrj.com/wp/


Agora, o site abaixo corresponde ao site oficial da UNE (União Nacional dos Estudantes) e da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), com todas as informações para se criar um grêmio.


http://www.une.org.br/home3/ubes_on-line/m_11232.html


Boa sorte pessoal, e até!




quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Memórias Reveladas

Pessoal, esse é o site do Governo Federal que organiza uma campanha para que se recolham documentos sobre os desaparecidos políticos durante o regime militar. Deem uma olhada, pois isso poderá ser importante em nossas discussões.

MEMÓRIAS REVELADAS
Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964 - 1985)

O Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil, denominado "Memórias Reveladas", foi institucionalizado pela Casa Civil da Presidência da República e implantado no Arquivo Nacional com a finalidade de reunir informações sobre os fatos da história política recente do País.

Dando continuidade a iniciativas dos últimos governos democráticos, em novembro de 2005, o Presidente Lula assinou decreto regulamentando a transferência para o Arquivo Nacional dos acervos dos extintos Conselho de Segurança Nacional, Comissão Geral de Investigações e Serviço Nacional de Informações, até então sob custódia da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e passou à Casa Civil a coordenação do recolhimento dos arquivos.

O Centro constitui um marco na democratização do acesso à informação e se insere no contexto das comemorações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um pedaço de nossa história estava nos porões. O "Memórias Reveladas" coloca à disposição de todos os brasileiros os arquivos sobre o período entre as décadas de 1960 e 1980 e das lutas de resistência à ditadura militar, quando imperaram no País censura, violação dos direitos políticos, prisões, torturas e mortes. Trata-se de fazer valer o direito à verdade e à memória.

A criação do Centro suscitou, pela primeira vez, acordos de cooperação firmados entre a União, Estados e o Distrito Federal para a integração, em rede, de arquivos e instituições públicas e privadas em comunicação permanente. Até o momento, em 13 Estados e no Distrito Federal foram identificados acervos organizados em seus respectivos arquivos públicos. Digitalizados, passam a integrar a rede nacional de informações do Portal "Memórias Reveladas", sob administração do Arquivo Nacional.

Essa iniciativa inédita está possibilitando a articulação entre os entes federados com vistas a uma política de reconstituição da memória nacional do período da ditadura militar. Os acordos firmados entre a União e os Estados detentores de arquivos viabilizam o cumprimento do requisito constitucional de acesso à informação a serviço da cidadania.

Estamos abrindo as cortinas do passado, criando as condições para aprimorarmos a democratização do Estado e da sociedade. Possibilitando o acesso às informações sobre os fatos políticos do País reencontramos nossa história, formamos nossa identidade e damos mais um passo para construir a nação que sonhamos: democrática, plural, mais justa e livre.

Dilma Vana Rousseff
Ministra-Chefe da Casa Civil


http://www.memoriasreveladas.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=43

Abração!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Moderação

Pessoal, infelizmente terei que moderar as mensagens. Não era meu desejo, mas há algum infeliz que está escrevendo mensagens mal educadas em nome de um aluno, o que é desagradável obviamente para aquele cujo nome está sendo usado. Isso infelizmente pode gerar um problema mais grave, na escola, que saia dos limites do blog. Procurando evitar isso, pretendo ler as mensagens antes de publicar. Fiquem tranquilos, pois pretendo publicar todas, inclusive as críticas. Porém, caso haja alguma mensagem mais polêmica, perguntarei ao aluno que assinar a mensagem se esta é de sua autoria para publicá-la.

Agradeço pela compreensão.
Até!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Miguxês

Pessoal, usarei o blog para introduzir um assunto que discutiremos amanhã. Leiam, e levem-no para a aula. Nada melhor do que um blog para falar sobre blogs! Legal!

O texto abaixo é de Sírio Possenti, um grande professor doutor do Departamento de Linguística do Instituto de estudos da Linguagem, da Unicamp, de onde venho. Ele escreve para a Terramagazine, e o texto abaixo eu tirei de lá!

Quinta, 14 de agosto de 2008, 07h57 Atualizada às 20h04

Miguxês

Sírio Possenti
De Campinas (SP)

A revista ISTOÉ/2023, de 13/08/2008, publicou matéria até simpática sobre o Miguxês, uma escrita típica de blogs e chats, que não se confunde com o internetês. Um pouco estranho é o título da matéria, "Você sabe falar miguxês", porque miguxês não se fala, só se escreve (mas essa confusão nunca vai acabar). Em compensação, o título é bem adequado, embora em outro sentido, porque está escrito mesmo em miguxês: "vuXxe sAbE falAH miguXexX?!".

Como sempre, há reclamações de adultos, porque não conseguem entender nada do que seus filhos adolescentes escrevem, o que os filhos devem achar ótimo, porque não querem mesmo que seus pais bisbilhotem suas mensagens ou seus bate-papos com amiguinhos/as. A matéria também cita o caso de uma jovem que abandonou o miguxês (Hoje, tô fora dessa bobagem, ela declara) depois de tirar uma nota baixa numa prova por ter levado a tal escrita para a escola. Cá pra nós, em vez de abandonar essa bobagem (o que tem o direito de fazer, claro, afinal, já tem 16 anos, informa a reportagem!!!), podia apenas ter abandonado o comportamento automatizado de bicho de circo, que a levou a escrever na escola como se estivesse num chat. E tudo indica que ela tem competência para não fazer essa confusão.

Na média, o tom da matéria não é escandaloso nem denuncia a destruição dos valores ou de nossa língua pátria por esses jovens irresponsáveis. No pé da página, há até uma descrição razoável do "socioleto" (sim, é essa a classificação do mixuguês na Wikipédia, o que, a meu ver, depõe contra essa "instituição", porque se trata apenas de uma variante ortográfica, como é a escrita dos pequenos classificados). Por exemplo: os acentos agudos e circunflexos são substituídos pela letra H no final da palavra e o til pelas letras N/M. Ex: Será (Serah), não (Naum); A letra O vira U. O dígrafo QU e a letra C viram K: Ex: Quero (Keru) etc.

Deve haver alguma imprecisão nessa descrição. Por exemplo, acho que não é verdade que O vira U. Isso deve acontecer apenas se o O é átono. O que importa é que o miguxês é tratado apenas como moda, como código secreto de um grupo etc. Nada perigoso...

Talvez a matéria pudesse até ser mais crítica, ir mais fundo, não para condenar a escrita como escrita, mas para destacar seu lado Xuxa, digamos assim. É que, de fato, essa grafia produz um efeito de infantilização dos usuários. Mas, na verdade, não tenho a mínima idéia sobre a melhor opção, dado o seguinte dilema: é melhor que a TV e quejandos produzam menininhas com caras e roupas de misses ou adolescentes com jeitos e "sentimentos" de crianças?

PS - Descobri - não tinha a menor idéia disso - que miguxês tem a ver com miguxo, um diminutivo afetivo de amigo (amigo > amiguxo > miguxo). Em minha total ignorância sobre o tema, achava que o rótulo tivesse vaga origem oriental, vejam só...

Leia o texto na íntegra: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3088857-EI8425,00-Miguxes.html

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Caros Amigos: No Brasil quem paga impostos são os pobres

Por Lúcia Rodrigues

A carga tributária brasileira é profundamente injusta. Os trabalhadores que recebem salários mais baixos trabalham três meses a mais do que os ricos, para pagar tributos. A propriedade e o capital sofrem baixa taxação. E os latifundiários praticamente não pagam imposto sobre a terra

O estudo divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre carga tributária e capacidade do gasto público no Brasil revela que são os trabalhadores os responsáveis pela maior parcela da arrecadação tributária no país. O percentual despendido para o pagamento de tributos é inversamente proporcional à renda dos brasileiros.
Quem recebe até dois salários mínimos de renda familiar mensal, ou seja, meio salário mínimo percapita por mês (levando-se em conta que o padrão de estrutura familiar no Brasil é composto por quatro pessoas), contribuiu no ano passado, com 53.9% desses recursos para o pagamento de tributos. Ao passo que o esforço dos que se encontram na outra ponta da tabela e recebem acima de 30 salários mínimos ficou na casa dos 29%.
O total de dias trabalhados para o pagamento de impostos por esses trabalhadores de baixa renda foi de 91 dias a mais no ano do que os que se encontram no topo da tabela. Ou seja, os trabalhadores mais pobres tiveram de trabalhar três meses a mais do que aqueles que recebem acima da faixa de 30 salários mínimos de renda familiar mensal.
“O sistema tributário brasileiro tem uma preferência. Fez a opção pelos ricos e proprietários”, afirma o presidente do Ipea, Márcio Pochmann. Ele conta que a tributação no país está focada sobre o consumo, principalmente, dos produtos destinados à população de baixa renda.
“Mas geralmente quem reclama da carga tributária são os ricos. Rico não querer pagar imposto, não é um fenômeno novo, é secular. Infelizmente somos um país que não tem cultura democrática. O sistema político expressa os interesses daqueles que têm propriedade e têm mais recursos para fazer valer os seus direitos”, argumenta.
O papel do Ipea ao produzir estudos dessa natureza é o de mostrar a realidade do país, segundo Pochmann. “Conhecer a realidade é o primeiro passo para transformá-la. No Brasil se tributam alimentos. Nos países desenvolvidos essa tributação não ocorre, pois são bens de primeira necessidade”, frisa. Ele defende a ideia de que é preciso avançar em um mecanismo de educação tributária. “Deve-se informar nos produtos quais são os tributos embutidos neles.”
A estimativa do Ipea para a carga tributária bruta, em 2008, foi de 36,2% do PIB (Produto Interno Bruto), a soma de tudo o que é produzido no país. Para o diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), João Sicsú, a carga tributária no Brasil não é alta, mas mal distribuída. Ele foi um dos técnicos que participou da elaboração do estudo. Durante aproximadamente um ano e meio dezenas de técnicos do instituto se debruçaram sobre o tema.
“A grande imprensa fala que a carga tributária no Brasil é muito alta. Mas não é verdade. Ela tem distorções. O que tem de se fazer é tornar a carga tributária progressiva. Quem tem mais, paga mais, quem tem menos, paga menos”, ressalta.
Segundo Sicsú, uma das distorções a ser corrigida é o baixo escalonamento de alíquotas do imposto de renda da pessoa física. “Até o ano passado só tínhamos três alíquotas. Maior justiça tributária se faz com um maior número de alíquotas. Deve-se atingir com alíquotas mais elevadas, quem tem rendas mais elevadas.”
No Brasil, o imposto de renda para a pessoa física tem cinco alíquotas, a mais alta fica na casa de 27,5%. “A França tem doze alíquotas. Mas não é só o número de faixas que precisa ser corrigido. Tem de ter alíquotas mínimas e máximas”, frisa.
Na França a alíquota mínima é 5% e a máxima de 57%. Na Holanda a máxima é de 60%, na Bélgica, 55%, na Alemanha, 53%, na Áustria, 50%, Austrália 47%, Israel 50%, Itália 45% e Estados Unidos, 40%. “O imposto de renda é o instrumento para se fazer justiça tributária, sobre a renda, sobre a riqueza”, destaca Sicsú.
Uma das características dos países desenvolvidos ou daqueles que honram o título de países em desenvolvimento é ter uma baixa carga tributária recaindo sobre impostos indiretos, caracterizados basicamente pelos tributos que taxam o consumo.
“Quando se compra um quilo de feijão, o rico e o pobre pagam o mesmo imposto embutido no preço final. Mas isso é absolutamente injusto, porque o esforço que o pobre faz para pagá-lo é infinitamente superior ao do rico.”
Para ele, o ponto central do argumento que deve ser discutido para se reverter essa distorção na tributação brasileira é aumentar os impostos sobre a renda e a riqueza e diminuir o peso dos impostos indiretos.
“A legislação tem de ser modificada para corrigir essas distorções. Tem de se criar mais alíquotas no imposto de renda, tributar a riqueza de uma forma mais justa, tributar a propriedade, o automóvel, apartamento, a herança, lancha, ferrari, o iate...”
Pagamento de juros
No ano passado, o governo federal pagou aproximadamente R$ 115 bilhões em juros e encargos da dívida. Esse tipo de pagamento é a única despesa que para ser autorizada não requer a identificação de uma fonte de receita. O Banco Central é quem determina quanto será pago e o Tesouro se vira para honrar.
Em termos percentuais, os juros e encargos da dívida, pagos em 2008, representaram 3,81% do orçamento fiscal e da seguridade. No mesmo período, o governo federal gastou 0,76% com a educação de ensino superior. Os gastos da União com a saúde representaram 1,51%. Para a habitação o governo despendeu 0,01%. Qualquer um desses gastos foi infinitamente inferior ao montante pago com a dívida.
“A carga tributária subiu fundamentalmente para pagar juros, não foi para gastar com os pobres”, frisa o professor de Economia da Unicamp Waldir José de Quadros, estudioso da estrutura social brasileira.
Para Quadros, a regressividade da carga tributária no Brasil é estrutural. “É uma discussão da resistência contra a ditadura, contra a concentração de renda. O bom é que o Ipea recolocou essa questão novamente na pauta”, afirma.
Segundo o professor, quem paga imposto no Brasil é pobre e assalariado. “A estrutura é distorcida, é regressiva. Tem uma grande ênfase no imposto indireto, aquele que está embutido no preço final do produto.”
Ele conta que ao contrário dos trabalhadores, as empresas montam estruturas, assessorias jurídicas para não pagarem impostos. “Existem vários escritórios de advocacia especializados, para evitar que os ricos paguem impostos, cumprindo a legislação. Não é sonegação. Escapam do imposto, dentro da lei. A legislação é confusa, e se valem de suas brechas. Os tributaristas são muito bem remunerados para conseguirem fazer isso.”
A interpretação conservadora, segundo ele, afirma que a carga tributária subiu por causa da Constituição Federal, que aumentou os direitos sociais. Mas na verdade, a arrecadação foi voltada para pagar juros da divida. “Aí o consenso conservador viabilizou”, afirma ao se referir a aceitação do pagamento da dívida pelos ricos.
O pagamento de juros e encargos da dívida consumiu no ano passado 6,9% do PIB. “Mas o país já chegou a pagar mais de 8%”, ressalta Quadros. “Estão tributando a sociedade para pagar a dívida. Isso é transferência de renda, por isso, a concentração de renda aumenta no Brasil”, conclui.
O professor Sicsú também critica o gasto com juros, apesar de afirmar que a dívida deve ser honrada. “No gasto com os juros se transfere recursos para um individuo ou uma empresa que já têm todas as suas necessidades de gastos satisfeitas. Tanto que aplicou em títulos da dívida pública, gastou tudo que precisava, aplicou nos títulos da dívida
pública e recebeu os juros”, frisa.
“E o que ele faz com os recursos que recebe? Aplica de novo no mercado financeiro. Não melhora a qualidade de vida de ninguém. Esse montante não é transformado em gasto, para gerar emprego e renda”, acrescenta.
A maioria dos capitalistas que conseguem escapar pelas brechas previstas na legislação, além de reduzir sua contribuição na carga tributária, injetam esses recursos na ciranda financeira. Esses rentistas aplicam seus capitais em títulos da dívida e são remunerados pelo governo quando este paga os juros. Ganham nas duas pontas.
“Hoje a dívida interna brasileira está em R$ 1,7 trilhão. É, por isso, que o governo não tem dinheiro para fazer reforma agrária. É por isso que não tem educação, que não tem saúde, 30% do orçamento está direcionado para pagar a dívida. Juros e carga tributária se inter-relacionam. O governo tem de arrecadar a qualquer custo para pagar os juros da dívida”, critica o assessor econômico do PSOL na Câmara dos Deputados, Rodrigo Ávila.
Ele é o responsável pelo estudo que o partido elaborou para subsidiar as discussões sobre a reforma tributária. O PSOL é contra o projeto apresentado pelo governo. Apesar de ter sofrido emendas na Comissão Especial de Reforma Tributária da Câmara o texto está longe de representar um avanço do ponto de vista da equidade tributária, segundo Ávila.
O substitutivo está pronto, mas não deve ir à votação no plenário da Câmara nem neste nem no próximo ano. “A reforma proposta não altera a estrutura tributária, quem paga imposto, hoje, vai continuar pagando. E o pior é que ainda tira a fonte de renda garantida para a seguridade social. A proposta defende a extinção da Cofins e do PIS”,
adverte o assessor.
O PSOL apresentou uma proposta alternativa à reforma tributária apresentada pelo governo. “Queremos que seja criado um imposto sobre as grandes fortunas, que está previsto na Constituição, mas que nunca foi regulamentado”, ressalta. O partido também quer acabar com a isenção do imposto de renda, para os investidores estrangeiros. Pela legislação, qualquer investidor estrangeiro que aplique o capital no mercado financeiro, não paga imposto de renda.

“Aprovar uma boa reforma tributária com esse congresso conservador vai ser difícil. Considero que a carga tributária não tem de diminuir. Sou a favor de mantê-la. Mas o governo tem de gastar melhor. O gasto é ineficiente, gasta muito com juros”, critica Quadros.
A baixa tributação da terra no Brasil também deixa o professor indignado. “Isso vem desde a época das sesmarias. A propriedade sempre foi subtaxada, é um problema histórico. É uma piada”, ironiza.
Redução do IPI
Segundo dados da Receita Federal, a renúncia estimada para este ano com a isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) concedida pelo governo federal, para eletrodomésticos da linha branca, veículos, motocicletas, caminhões, materiais de construção e farinha de trigo, representará R$ 3,3 milhões.
Apesar da renúncia na arrecadação do tributo pela União, o professor Quadros considera que o governo federal acertou na medida. “A isenção do IPI foi eficiente, evitou a precipitação da crise. A recessão seria uma penalização maior.”
O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique da Silva Santos, foi procurado pela reportagem da Caros Amigos, por intermédio de sua assessoria de imprensa, para comentar o estudo do Ipea sobre a carga tributária brasileira e a redução do IPI, mas não retornou o contato até o fechamento desta edição.
A assessoria da Central encaminhou um documento datado de 2003, com as propostas da CUT para uma reforma tributária. As diretrizes do texto informam que a entidade defende a melhoria na distribuição de renda, o aperfeiçoamento na distribuição dos recursos do pacto federativo e estímulo ao crescimento com estabilidade de preços.
O incentivo ao investimento produtivo, especialmente àqueles que geram mais empregos, a recuperação da capacidade de investimento do Estado nas áreas sociais e de infraestrutura econômica, a elevação do peso dos impostos diretos sobre o grande patrimônio, a redução da participação dos impostos indiretos no total arrecadado, a desoneração da cesta básica, além da eliminação da guerra fiscal entre Estados e municípios e o combate à fraude e sonegação também são preocupações da CUT.
Empresários
Para os empresários ligados à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a carga tributária brasileira tem dois problemas: é alta e complexa. “O Brasil tem uma tributação de primeiro mundo e serviços de terceiro”, afirma Hélcio Honda, diretor do Departamento Jurídico da entidade.
“O gasto do governo é mal aplicado no retorno para a população. Se tivesse uma carga tributária de 40% do PIB, mas não se precisasse pagar escola para os filhos, não se precisasse pagar um plano de saúde, pedágios nas rodovias, talvez a carga tributária fosse até baixa. Mas na realidade brasileira tem que se pagar por tudo”, frisa.
Ele reclama do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), o imposto que é cobrado pelos governos estaduais. “A carga é complexa porque são 27 alíquotas diferentes. Os impostos da União são mais simples, têm uma legislação só.”
O secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, Mauro Costa, foi procurado pela reportagem da Caros Amigos, por intermédio da assessoria de imprensa, para comentar a carga tributária paulista, mas não retornou as ligações. A assessoria do secretário informou que somente ele poderia comentar o assunto.
Para Honda, a carga tributária brasileira penaliza a população de baixa renda porque é regressiva. “Está baseada no consumo. A carga tributária sobre o consumo e o faturamento é elevada”, reclama.
Banqueiros
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) considera a carga tributária brasileira alta. Segundo o assessor sênior da entidade, Ademiro Vian, a tributação paga pelos bancos é extremamente elevada. “Do que se paga para o banco, 44,65% vai para o cofre da União.”
A Federação tem razão na afirmação. Mas ao contrário do que tenta provar é o cliente quem paga pelos tributos. Quem arca com o peso desses tributos é o cliente. Os bancos, portanto, não têm do que reclamar, pelo simples fato de não contribuir com o bolo da arrecadação tributária, pois apenas repassam para o Executivo o tributo que embutem as taxas bancárias que cobram de seus clientes.
“Os nossos tributos têm muitos subsídios cruzados. O Banco Central fala para o banco que não pode cobrar tarifa sobre dez folhas de talão de cheque. Tudo bem, o banco não vai cobrar sobre aquela operação, mas vai repassar esse custo embutido em outras tarifas. Não existe almoço de graça. Pode-se isentar uma determinada operação, mas vai
aumentar em outra ponta”, reconhece o assessor da Febraban.
Segundo Vian, os bancos são os maiores contribuintes de arrecadação da receita total da União. Duzentas e dezessete instituições financeiras responderam por 30% da arrecadação federal, em 2007. Na verdade, como ele próprio reconheceu, os bancos apenas repassam para o governo os impostos que são pagos por seus clientes.
Entenda os mecanismos que os ricos utilizam para driblar o Fisco
O sistema tributário de um país é o reflexo da correlação de forças que há na sociedade. Existem três formas clássicas de tributação no mundo: sobre a renda, o patrimônio e o consumo. O peso que é atribuído a cada uma delas é que define quem irá arcar com o ônus da carga tributária nacional.
Maior tributação sobre o patrimônio e a renda pressupõe maior justiça tributária, ou seja, paga quem é dono de propriedade ou detentor de capital. Já os impostos que são cobrados sobre o consumo penalizam, principalmente, os pobres, que destinam a maior parte de seu orçamento para a compra de produtos e serviços. Os trabalhadores assalariados de classe média também são atingidos por esse mesmo mecanismo, quando o governo opta pela ênfase nesse tipo de arrecadação de tributos.
No Brasil, sempre se privilegiou a taxação do consumo em detrimento do patrimônio e da renda. Atualmente dois terços da arrecadação das três esferas (União, Estados e municípios) tributam o consumo. “Os ricos nunca pagaram muito tributo”, ressalta o presidente da delegacia de Campinas do Unafisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal), Paulo Gil Introíni. O auditor fiscal explica à Caros Amigos alguns dos mecanismos utilizados pelos ricos para driblar o fisco e não pagar impostos, dentro da lei.
O caso mais emblemático é o do ITR (Imposto Territorial Rural). Esse imposto é praticamente residual no total da arrecadação da carga tributária. Segundo o estudo divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Economica Aplicada), a valor pago pelos donos da terra representou R$ 0,3 bilhão de um total de R$ 141,1 bilhões de tributos arrecadados incidentes sobre a propriedade e renda do capital, em 2006. “O Brasil é vice campeão mundial em concentração de terras, mas latifundiário não paga imposto.”
Ao contrário do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), que é lançado pelas prefeituras, no ITR cabe ao proprietário rural lançar o valor de sua propriedade. Ele paga em cima daquilo que declara. O formulário preenchido é semelhante ao imposto de renda. Cabe ao Executivo verificar se a declaração é verdadeira ou não.
Além dessas injustiças sociais, a tributação sobre a renda e o patrimônio praticamente não é progressiva. “Para se fazer justiça deveria se tributar progressivamente a renda e o patrimônio. Quem ganha mais e tem mais renda, deveria pagar proporcionalmente mais. Está na nossa Constituição. Só que esse princípio não é respeitado”, ressalta.
Segundo Gil, a partir de meados da década de 90 houve um aprofundamento da injustiça tributária. O projeto capitaneado pelo ex presidente da República Fernando Henrique e operado pelo então secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, desonerou a renda do capital e aumentou a tributação sobre o consumo.
No primeiro ano do governo FHC ocorreu uma grande reforma no imposto de renda, com a diminuição da tributação sobre a renda do capital e o aumento sobre a renda do trabalho. Pelo mecanismo proposto pelo governo tucano, “a pessoa física que ganhasse, por exemplo, R$ 5 mil estava sujeita a uma alíquota de 27,5%, já o empresário que retirasse, no mesmo período, R$ 50 milhões em lucros de sua empresa ficava isento do imposto de renda de pessoa física”, conta. A legislação aprovada garantia à distribuição de lucros, isenção.
O argumento era o de que a empresa já havia pago o imposto como pessoa jurídica. Mas o governo poderia fazer com que os empresários abatessem da pessoa física o que a jurídica pagou. Só que FHC não fez isso.” Os empresários, como pessoas físicas, não pagam um tostão de imposto de renda quando transferem os lucros de suas empresas.
“Pagam o imposto de renda de pessoa jurídica de até 25%. Mas como pessoa física, o montante entraria na alíquota de 27,5%.” Nos países desenvolvidos a tributação das pessoas física e jurídica é separada, independente.
Além desse subterfúgio, os setores empresarial e financeiro também se valeram de outro mecanismo para engordar ainda mais seus recursos: o juro de capital próprio. Existem duas formas de distribuição de lucro no país. Uma é a isenção pura e simples, a outra, o juro de capital próprio.
Lançam mão do recurso do juro de capital próprio, as empresas muito capitalizadas e os bancos. Sobre um percentual de seu patrimônio liquido, eles calculam uma taxa de juros fictícia, baseada na TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). É como se estivessem tomando emprestado o seu próprio capital. É em cima dessa remuneração fictícia, que calculam quanto podem abater de tributos que deveriam pagar ao fisco, caso tivessem tomado de fato o empréstimo dos recursos no mercado financeiro.
Normalmente pagam até 25% de imposto de renda de pessoa jurídica e 9% de contribuição social, mas o mecanismo permite abater a despesa fictícia na rubrica juros de capital próprio. Ao lançar isso como despesa, diminuem a receita e mascaram o lucro. A tributação sobre o lucro, cai.
“Deixam de pagar os 34% de imposto e contribuição e passam a pagar 15%, apenas. Isso representa uma economia de 19%. O guia de um jornal econômico paulista recomendava essa forma de distribuição de lucros, como a mais vantajosa”, frisa o dirigente do sindicato dos auditores fiscais.
Desoneração dos ricos
A principal medida do governo FHC para reformar o imposto de renda, em meados da década de 90, foi a da desoneração da renda do capital. A pessoa física, ao contrário, foi penalizada com o congelamento da tabela. E mais pessoas tiveram de passar a declarar à Receita. “A tabela ficou congelada por cinco anos e provocou uma defasagem de 35%. No ano 2000, o número de declarantes mais que dobrou.”
A classe média também foi arrochada por FHC e passou a ser mais tributada. “Enquanto os ricos passaram a pagar menos ou a não pagar nada”, comenta. Houve um deslocamento da tributação da renda oriunda do trabalho e uma desoneração da renda originária do capital.
Na base dos metalúrgicos do ABC, poucos trabalhadores apresentavam declaração de imposto de renda. Mas após 1995 muitos passaram declarar à Receita. Não ocorreu distribuição de renda, não houve aumento da massa salarial, pelo contrário a massa
diminuiu. O que ocorreu foi que o governo avançou sobre a parcela dos salários, entrou no que se costuma chamar de mínimo existencial.
O mínimo existencial é levado em consideração em alguns países, para não se tributar pessoas pobres. Trata-se de um mínimo de recursos de que a pessoa necessita para viver (para manter gastos com alimentação, moradia, saúde, educação, transporte e, inclusive, lazer). “Se a pessoa desvia algum recurso necessário à sobrevivência, para o pagamento de tributos, isso é considerado confisco.”
Para Gil, a carga tributária do país é profundamente mal distribuída. “Há um falso debate, se é alta ou baixa. A pergunta fundamental que tem de ser respondida é quem é que paga a conta. Os que estão gritando que a carga tributária é alta, não são os que arcam com a carga. Quem arca de fato e nem sabe disso, são os trabalhadores, vítimas inocentes dessa história”, ressalta.
“Quem tem isenção de lucros, não tem moral para dizer que a carga tributária é alta. Não são os banqueiros, não são os empresários das multinacionais, os grandes executivos, que pagam essa carga. São os trabalhadores. Pela ordem, os assalariados de baixa renda e a classe média. O nosso sistema tributário é Robin Hoodiano às avessas”, acrescenta.