Para colocar um pouco de fogo na conversa, uma excelente crônica de João Pereira Coutinho sobre a lei antifumo em SP. Será que isso não é mais político do que um caso de saúde pública? Um excelente panfleto eleitoreiro, que devemos obviamente questionar.
Eia!!!
Folha de São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009
JOÃO PEREIRA COUTINHO
Até tu, São Paulo?
Leio a legislação antifumo do Estado de São Paulo e reconheço sua natureza totalitária
A SÉRIE "Mad Men" ainda não estreou no Brasil. Lamento. Melhor é impossível. "Mad Men" é o retrato perfeito dos publicitários da Madison Avenue na Nova York sofisticada de 1960. Mas é mais do que isso. Um fresco sobre a grande transição americana: do aburguesamento dos "fifties" à contracultura dos "sixties". Do tédio à lixeira.
Um pormenor, porém, não deixa de causar espanto entre os filistinos: o fumo. Em "Mad Men", toda a gente fuma com uma naturalidade que nos parece herética. Dentro dos edifícios, fora dos edifícios. Mães, pais. Patrões. Empregados. E médicos, é claro, a começar por um ginecologista que segura o cigarro com uma mão e faz o exame com a outra. Equilibrismo puro.
Tanto fumo não deveria espantar. Pessoalmente, ainda recordo o tempo heroico em que o meu avô me levava ao cinema e fumava, em plena sala, do princípio ao fim.
E, historicamente, "Mad Men" está na viragem. Em 1950, Richard Doll publicava o primeiro grande ensaio científico sobre a relação direta entre fumo (ativo) e doença. Só em 1970 chegou o mito do "fumo passivo". Digo "mito" e digo bem. Ainda está para aparecer o primeiro estudo cientificamente rigoroso capaz de mostrar uma relação sustentada entre "fumo passivo" e câncer.
O que não significa que não existam estudos sobre essa hipótese. Christopher Booker, um especialista sobre as nossas histerias modernas, normalmente lembra dois. Os maiores e mais recentes. O primeiro foi realizado pela Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer, da Organização Mundial de Saúde. O segundo foi dirigido, durante 40 anos, por James Enstrom e Geoffrey Kabat para a Sociedade Americana de Câncer através da observação de 35 mil não fumantes que conviviam diariamente com fumantes. Resultados? Repito: um mito é um mito é um mito.
Mas a ideologia é a ideologia é a ideologia. De vez em quando, afirmo que alguns traços nazistas sobreviveram a 1945. Sou insultado. Não respondo. Basta olhar em volta para perceber que algumas das nossas rotinas médicas mais básicas teriam agradado ao tio Adolfo e à sua busca de perfeição terrena. Exemplos? Certas formas de eugenia "respeitável", praticadas por milhões de pessoas quando recebem uma má ecografia. Ou a demonização absoluta que o fumante moderno conhece nos Estados Unidos. Na Europa. E agora, hélas, em São Paulo.
Leio a legislação antifumo do Estado de São Paulo e reconheço a natureza totalitária dela, novamente dominada por uma ideia iníqua de perfeição física.
Tudo começa pela elevação da mentira a dogma: o dogma de que "fumo passivo" é um perigo fatal para terceiros. O dogma não é apenas fantasioso; é também perigoso, porque estabelece de imediato uma divisão moral entre os agentes da corrupção (os fumantes) e as vítimas inocentes (os abstêmios). É só substituir "fumante" por "judeu"; e "abstêmio" por "ariano" para regressar a 1933.
E regressar a 1933 é regressar a um mundo que desprezava a liberdade individual com especial ferocidade. A lei antifumo cumpre esse propósito. Proibir o fumo em lugares fechados, como bares ou restaurantes, é um ataque à propriedade privada e à liberdade de cada proprietário decidir que tipo de clientes deseja acolher no seu espaço. O mesmo raciocínio aplica-se aos clientes, impedidos de decidir livremente onde desejam ser acolhidos.
Mas o melhor da lei vem no policiamento. Imitando as piores práticas das sociedades fechadas, a lei promove a delação como forma de convivência social. Por telefone ou pela internet, cada cidadão é convidado a ser um vigilante do vizinho, denunciando comportamentos "desviantes". Isso não é regressar a 1933. É, no mínimo, um regresso à Rússia de 1917. Se juntarmos ao quadro uma verdadeira "polícia sanitária" que ataca à paisana, é possível concluir que o espírito KGB emigrou para o Brasil.
Finalmente, lembremos o essencial: os extremismos políticos só sobrevivem em sociedades cúmplices, ou pelo menos indiferentes aos extremistas. Será São Paulo esse tipo de sociedade?
Parece. A última pesquisa Datafolha é sinistra: a esmagadora maioria dos paulistas (88%) aprova a lei antifumo. Só 10% se opõem a ela. Só 2% lhe são indiferentes. Mais irônico é olhar para os fumantes: depois de anos e anos de propaganda e desumanização, eles olham-se no espelho, sentem o clássico nojo de si próprios e até concordam com a lei (77%). Razão tinha Karl Kraus quando afirmava, na Viena de inícios do século, que o antissemitismo era tão normal que até os judeus o praticavam. Péssimo presságio.
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Adorei o texto, mto bem argumentado e realmente a lei eh um pouco totalitaria...mas nao mudou meu ponto de vista de q essa lei eh necessaria e eh um problema de saude publica sim. podem nao existir estudos q comprovem a relaçao entre fumo passaivo e cancer, mas esse fumo com certeza traz maleficios a saude, seja dos fumantes, seja dos nao-fumantes...=)fer menten
ResponderExcluirCaro Marquito
ResponderExcluirExtremamente infeliz o que foi publicado pela Folha de São Paulo, sob assinatura do João Pereira Coutinho, cronista que nem brasileiro é, criticando a Lei Antifumo.
Lei esta recentemente publicada e felizmente já imitada pelo Governo do Rio de Janeiro e já em estudo pelo município de Fortaleza/CE, o que reforça ser uma excelente ideia, haja vista a falta de educação dos farmacodependentes. Além do fato de exalarem um péssimo hálito quando falam, poluem o ar com a fumaça, o solo ao jogarem os restos do cigarro (bituca), plásticos que envolvem o maço e o próprio maço, quando encerram sua epopéia suicida.
Ou seja: o fumante é um ser desprezível e desnecessário à sociedade, a menos que alimentar um ciclo de apologia ao tabagismo seja útil para alguém.
Mais infeliz ainda foi o fato de você o perpetuar este escárnio social, pois o ato de fumar se trata da mais pura demonstração de falta de respeito ao seu semelhante.
Como professor (assim está descrito em seu perfil, porém não tenho como certificar-me)você deveria dar exemplo. Espero que não divulgue este blog para seus alunos !!!
Respeito meus Mestres e assim eu os trato até hoje quando os encontro, pois eles souberam respeitar e serem respeitados.
Claro que o fato de ser necessária uma lei para a correção deste desvio de conduta já é por si só um atentado social. Da mesma forma, é necessária uma lei proibindo a venda de bebidas alcoólicas ao longo de rodovias, pois o ser humano é antisocial e egoísta por natureza. Para que possa viver em sociedade são necessárias inúmeras leis, com excesso de artigos. Vide nossa Constituição Federal com 250 artigos (!!!), comparada com a dos Estados Unidos da América que originalmente possuía apenas 7 e nosso Código Civil com 2.046 artigos. Um extremo absurdo jurídico que comprova a necessidade de regramento para vivermos em coletividade.
Concluindo, se a população não possui condições de viver pacificamente, ou o governo estabelece as regras ou seremos obrigados a andar com um extintor de incêndio para descarregar na cara dos incômodos e anacrônicos tabagistas.
Diego Campos
lol ¬¬'
ResponderExcluirCaro Diego. Muito obrigado por seu comentário, e o entendo como debate relevante à sociedade. Porem, gostaria de esclarecer que, como professor, tenho a obrigação de ensiná-los a respeitar o ser humano, seja ele negro, branco, pobre, rico, limpo, sujo, fumante ou não fumante. Não sou fumante, também concordo com o respeito ao espaço do não fumante, no qual me coloco. Apenas não concordo com medidas totalitárias. Eis a questão. Sinto, mas dizer que "o fumante é um ser desprezível e desnecessário à sociedade" somente alimenta ainda mais meu pensamento sobre essa lei. Definitivamente, agora não tenho dúvidas sobre o tipo de ideologia que a lei anti-fumo estimula.
ResponderExcluirSem mais.
Marquito.
Fernanda, muito obrigado por sua opinião! Não devemos necessariamente mudar nossas opiniões, mas devemos sim debater, e respeitar a opinião do outro.
ResponderExcluirVocê é demais, continue participando!!
Só mais um comentário: Todos aqui têm o direito de discordar de minhas ideias. Isso é saudável e natural. Mas todos têm o dever de me respeitar como pessoa e profissional. Principalmente quando não me conhece.
ResponderExcluirValeu!!
Comentando o que o Diego escreveu sobre "o fumante é um ser desprezível e desnecessário à sociedade", o fato de um ser humano fumar não significa que ele não tenha outras boas qualidades (provavelmente muito melhores que as minhas, as do Diego ou a do próprio professor Marquito). O ato de fumar sim é desnecessário para a sociedade, igual são muitas coisas que fazemos no dia a dia, mas não anula o ser humano que o pratica.
ResponderExcluirComentando também o ponto "ou o governo estabelece as regras ou seremos obrigados a andar com um extintor de incêndio para descarregar na cara dos incômodos e anacrônicos tabagistas", enquanto a primeira parte desta frase parece exigir um governo totalitarista para controlar desvios de conduta polêmicos, a segunda claramente já é por si só um desvio tão ou mais grave quanto jogar fumaça na cara de um não fumante. Seguindo este raciocínio, se o governo não aprova a lei anti-tabaco, espero que aprove uma lei anti-descarga-de-extintores-na-cara-de-qualquer-pessoa.
Para deixar claro, sou brasileiro mas moro em um país onde a lei do tabaco ainda não chegou e onde as pessoas fumam ao seu lado enquanto você ainda não terminou de almoçar. Não gosto de cigarro, mas recentemente tive que começar a conviver com ele, pois conheci uma garota sensacional, criativa, com muita energia para aportar coisas à sociedade e que fuma.
Há um texto do Bruno Ribeiro que responde a essa quantidade de bobagens do Diego: http://botequimdobruno.blogspot.com/2009/08/republica-dos-alcaguetes.html
ResponderExcluirMais uma coisa: um alcoólatra, um flatulento e um tabagista estão exatamente no mesmo nível de pessoas com desvio de comportamento antisocial.
ResponderExcluirSe todos os farmacodependentes soubessem o quanto são inconvenientes e que deveriam realizar seu suicídio em ambiente restrito, ou seja, apenas sua casa, a Lei nem seria necessária. Como não sabem se comportar, o governo tratou de garantir o bem estar dos demais. É apenas mais um exemplo onde o interesse coletivo deve estar acima do pessoal, garantido agora por lei.
Sinto muito, Sr. Diego. Se quiser comentar, será um prazer recebê-lo aqui. Mas não agredirá absolutamente a ninguém pessoalmente nessa lista. Imagino que ninguém ainda te agrediu. O que o senhor disse sobre o Gnomo, quem quer que seja, é de um extremo mau gosto e simplesmente contradiz tudo o que o sr. vem dizendo sobre respeito, qualquer qeu seja sua opinião. Portanto, agressões pessoais serão removidas. Respeite as pessoas.
ResponderExcluirAo ler todos os comentarios a cima, vejo claramente o ponto de vista de cada um. Particularmente achei esta nova lei de extrema importancia, uma vez que independente de cancêr, ou qualquer outra doença, o fumante passivo tem o total direito de não sofrer com a evidente fraqueza/dependencia do outro.
ResponderExcluirNão pretendo claramente comentar sobre a comparação entre a lei e o antisemita, pois isto em meu ponto de vista, apesar de ser possivel, não acho que seja a principal razão da lei, nem chegue perto disso.
Eu apoio totalmente esta nova lei, por ser não fumante, obiviamente, e acredito que não seja extremamente preciso examinar muito a fundo uma suposta intenção oculta, uma vez que a lei é beneficente à saúde de todos.
Muito obrigado Carol, sua opinião é importante!
ResponderExcluirEu também gosto da lei, e concordo que os espaços devem ser delimitados para que se respeite a liberdade de escolha das pessoas. Eu só discordo dos meios. Esse, na verdade, foi o meio mais fácil de resolver o problema. Acho que daria para debater mais abertamente sobre o assunto, e não tomar medidas totalitárias ou denuncistas. Assim como nós, não fumantes, escolhemos não fumar, um fumante pode escolher fumar, e ter seus espaços legitimados sem ser execrado ou demonizado. Ele não é um cigarro, é uma pessoa. As consequencias, na verdade, serão complicadas... Como a lei está escrita, o fumante muito facilmente será tratado com repugnância, e alimentará preconceitos diversos. Isso, para mim, é muito perigoso. A delação também pode gerar situações das mais constrangedoras. Vou denunciar meu colega ao Estado por ele estar fumando? E se alguém, por má fé, me denuncia e eu não fumei? Como provar que não fumei um cigarro? É complicado... Na verdade, isso não é uma questão de saúde pública, senão deve-se proibir também a Coca-cola, o chocolate, a fritura, os fast-foods, o sol em excesso, a emissão de CO2 pelas indústrias, pelos carros... É uma medida política, entende?
Obrigado.
noosa o texto é legal ensina as pessoas não serem bestas de disperdissarem o seu tempo distruindo o pulmão,cara e alendo mais fumar hoje am dia devia ser proibido,parar de ser fabricado,as plantaçãeo de tabaco deviam ser bombardeadas e etc.Mais enfim quem fuma se prejudica,quem está perto do fumante tambem é afetado,e o vicio do cigarro é a pior tortura que existe pois alem de vcs fumantes se prejudicarem vcs não conseguem parar e infelizmente é isso...uma coisa do diaboooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo.
ResponderExcluirbombardeado uauahauhauha
ResponderExcluirEu só acho que a lei quer acima de tudo é passar uma imagem de governo preocupado com o povo. Acho que um restaurante ter um espaço para fumantes não é prejudicial a ninguém - Não necessariamente uma área com mesas, pois há a questão do garçom, mas uma varanda, por exemplo. Seria até melhor para o não-fumante, visto que o fumante iria à varanda fumar, e não à rua, na porta do restaurante, onde há circulação de pessoas.
ResponderExcluirÉ verrrdade, Francisco
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